25 de jun. de 2007

Somos o 2° pais em população negra no mundo! 47% dos brasileiros são negros!!
Mas apenas 2% dos jovens negros estão em universidades...


Por que na UFRGS menos de 2% dos estudantes e 0,3% dos professores são negros? Por que em cursos como medicina, direito, psicologia, odontologia, informática, só vemos brancos?

Podemos usar as palavras e justificativas que quisermos pra amenizar, mas isso não é menos que APARTHEID!

A sociedade brasileira se formou sobre bases racistas, e a idéia de que negros e indígenas são inferiores aos brancos formou nossa cultura e moldou nossas instituições. Sofremos com um racismo estrutural que privilegia brancos em todas nossas relações e instituições. Mesmo que você ou eu nunca tenhamos pensado em termos raciais, todos nós tivemos nossas vidas moldadas dentro deste sistema de relações racistas. As vidas de todos nós, as nossas e a sua, foram construídas por este conjunto de relações que privilegiam brancos e prejudica, dia-a-dia, negros e indígenas.
E a universidade brasileira, por nunca ter atacado diretamente este racismo estrutural de nossa sociedade, reproduz e radicaliza, a exclusão de negros e indígenas. A meritocracia é uma mentira: se somos brancos, fomos privilegiados, mesmo que tenhamos trabalhado duro para chegar onde estamos. Se queremos realmente justiça aos méritos de cada um não temos saídas: ou criamos Ações Afirmativas, no sentido de atacar diretamente os pontos onde este racismo estrutural se manifesta e reproduz, ou eternamente veremos o abismos entre negros, indígenas e brancos se radicalizar...

O que são Ações Afirmativas?
São conjuntos de ações que têm como objetivo reparar os aspectos discriminatórios institucionais e sistêmicos que impedem o acesso de pessoas pertencentes a diversos grupos sociais às mais diferentes oportunidades. Considerando que estas populações sofrem diversos processos de exclusão estrutural, somente com ações estruturais de promoção específica de sua inclusão é possível reverter tal quadro.
Por que cotas? As cotas em universidades consistem em estabelecer uma reserva de vagas
para pessoas pertencentes a certos grupos, que ao longo de sua trajetória foram impedidos de acessar os recursos necessário para ingressar neste espaço.

NAO É FAVOR, É DIREITO!!

Negros e indígenas não precisam das cotas, entrar na universidade é seu direito. Quem precisa de cotas é a universidade, que tem um método tão excludente de seleção de alunos que, sem estabelecer para si mesma uma cota mínima de negros, indígenas e alunos de escolas públicas, acaba por sempre excluir estas populações.

E por que raciais?
As cotas raciais possibilitam diminuir as disparidades entre o grupo privilegiado, branco e os grupos excluídos, negros e indígenas. Além disso, falar de cotas estimula o debate sobre a discriminação racial, denuncia o absurdo de uma sociedade multiétnica, mas que contempla em suas universidades apenas o segmento branco. Através das cotas de recorte étnico-racial reverte-se esse quadro, agindo sobre as conseqüências da escravidão do negro e da expropriação e marginalização do indígena nesse país.
As Ações Afirmativas não são apenas uma forma de reparação histórica aos danos causados pelos brancos no passado. São medidas para combater a atualização destas estruturas racistas que continuam organizando a nossa sociedade hoje, perpetuando, assim, a segregação racial.

Uma outra forma de racismo...?
Pelo contrario, o debate sobre as cotas apenas evidencia a divisão racial existente, mas que normalmente é mascarada. Ao contrário do que se diz, esta política não fere o princípio da igualdade, pois defender as cotas é contribuir para pôr em prática este princípio constitucional. Possibilitar um acesso diferenciado a um grupo, devido ao modo como foi tratado ao longo da história, com menos oportunidades e em desvantagem, é uma tentativa de diminuir essa desigualdade e não de prolongá-la, garantindo estes direitos básicos. É assumir que existe uma desigualdade procurando repará-la. As cotas raciais não recriam as raças, apenas põem a mostra o câncer que destruía nossa sociedade às escondidas. Não se combate uma doença sem tomarmos consciência de que ela existe em nós. É duro, exige coragem, e muitas vezes, cortar na própria pele, mas você deixaria um câncer agindo em você apenas para não falar sobre ele?

Por que não instituir cotas apenas para escolas públicas?
Apesar de ser importante esse tipo de iniciativa, ela não atinge diretamente o problema do racismo. O seu caráter universalista não tem forca para atacar a questão. A idéia de políticas universalistas de inclusão é o ideal de todos nós, mas temos que reconhecer a realidade que temos: se você pegar os dados de todos os problemas sociais brasileiros universalmente atacados e com resultados positivos nos últimos anos (mortalidade infantil, alfabetização, geração de empregos, ACESSO À UNIVERSIDADE...), em todos você perceberá uma inclusão menor de negros e indígenas.

Não há como ser neutro nesta problemática. Manter o que temos, é manter privilégios!!
As políticas de Ações Afirmativas têm de ser complementadas com investimentos massivos na educação publica em todos os seus níveis, distribuição de renda e geração de postos de trabalho dignos. Mas nada disso é alternativo as cotas. Sem as Ações Afirmativas de corte racial, reproduziremos eternamente a exclusão de negros e indígenas. Aqueles que entrarem pela reserva de vagas, e todos seus milhares de apoiadores dentro e fora da universidade formarão um grande movimento pelo avanço das políticas de universalização da cidadania brasileira, conscientes de que este é apenas um PRIMEIRO e por isso, INDISPENSAVEL passo rumo a muitas lutas e vitórias necessárias.

Material do GT de ações afirmativas da UFRGS